Santo e Homem - O Papa João Paulo IIDANIELLE em surdina, langsamPaciano Rizal - O Herói que Falta na LunetaPacotes de Enfermagem

terça-feira, 28 de abril de 2009

Lançamento do Livro - Prêmio Carlos Gomes - uma retrospectiva


Caros Amigos



Este livro será lançado na sala São Paulo dia 11/05 durante a cerimônia do XII Prêmio Carlos Gomes.



Prêmio Carlos Gomes:
Uma retrospectiva
1996-2006

João Luiz Sampaio
Para que serve um prêmio? São muitas as respostas. De um lado, pode-se querer honrar alguém, concedendo, em seu nome, gratificações a membros dos mais diversos setores; de outro, há simplesmente a busca por estimular e compensar alguém ou algum setor, financeiramente ou em termos de prestígio e reconhecimento; e por que não usar um prêmio como chamariz, uma celebração – ou busca por perpetuação – de um momento histórico, de uma atividade específica, de uma determinada indústria? Foi com um pouco de cada um desses objetivos que, em 1996, surgia o Prêmio Carlos Gomes.
Desde o primeiro instante – e à medida que suas edições sucediam-se – um mesmo credo foi repetido por seus criadores, em especial o então secretário-adjunto de Cultura de São Paulo Zélio Alves Pinto e a promoter Alice Carta: a premiação era criada para homenagear um dos maiores artistas da história do país, o compositor Carlos Gomes; em segundo lugar, para honrar músicos e personalidades que lutavam por sua arte em um contexto muitas vezes pouco receptivo, o mesmo meio que, guardadas as devidas proporções, havia feito com que Carlos Gomes morresse praticamente na miséria em seu país, após uma carreira de prestígio na Itália. Ao mesmo tempo, com a escolha dos melhores da música erudita e ópera brasileiras, esperava se criar um universo de referências para o setor, consolidando seu vigor tanto internamente como perante a vida cultural mais ampla do país.
Lançadas as bases do projeto e partindo em direção à estrada que nos leva da teoria à prática, nos deparamos com a realidade. E um prêmio que pretendia transformar um contexto adverso precisava, antes de mais nada, conseguir sobreviver em meio a ele. Voltemos rapidamente àquele ano de 1996. Carlos Gomes chegava ao seu centenário de morte. Para marcar a data, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo organizava um ciclo de todas as suas óperas, que seriam apresentadas em versão de concerto, já que o sonho de levar ao palco, encenadas, todas as óperas do compositor soava como um objetivo não apenas distante mas, principalmente, improvável. Os problemas não paravam por aí. A dificuldade em encontrar partituras em estados razoáveis de preservação não apenas tornava inatingível a empreitada como flagrava o absurdo – as obras de nosso principal compositor de óperas, cem anos após sua morte, não haviam ainda sido sequer editadas decentemente, fazendo com que nossa percepção de seu legado fosse entrecortada, teórica e distante, na melhor das hipóteses. Além disso, uma visita aos arquivos dos principais jornais brasileiros encontra nos primeiros meses do ano uma infinidade de projetos sendo articulados, montagens, peças de teatro inspiradas na vida de Carlos Gomes, livros, biografias, ciclos de palestras. Mês a mês, no entanto, o nome de Carlos Gomes vai desaparecendo das páginas dos jornais, indicação de que a maior parte daqueles projetos não se concretizou – ou, ao menos, não da maneira esperada, sempre por falta de patrocínio e interesse oficial dos governos.
Outros problemas e questões da vida musical de então poderiam aqui ser levantados. Mas basta tomar como exemplo o estado da obra do patrono do prêmio que então surgia para entender como a vida musical brasileira esteve sempre um passo atrás da maturidade, com o talento em evidência, sim, como também era evidente a falta de condições para que ele pudesse se desenvolver. A falta de verbas, de políticas públicas, de articulação do setor foi, ao longo dos anos, responsável por apartar das demais manifestações artísticas a música clássica e a ópera, diminuindo sua representatividade na vida artística brasileira.
É nesse contexto que surge o Prêmio Carlos Gomes, padecendo, desde o início, dos mesmos problemas de que padecia a vida musical do país. Pequeno em escopo, levou anos até ampliar a galeria de categorias e, consequentemente, de premiados. Mesmo apoiado pelo governo do estado de São Paulo, precisou constantemente buscar na iniciativa privada meios de subsistência – e, nesse sentido, sofreu com as flutuações do mercado. Misturou-se à política e premiou seus próprios incentivadores; em certo momento, nas mãos de Alice Carta, buscando visibilidade e prestígio, flertou com o universo das colunas sociais, embarcou em delírios como o de fazer do prêmio uma iniciativa de caráter mundial, “o Oscar da música clássica”, bagunçando os próprios critérios de escolha dos premiados, que, no mais, sofreram alterações constantes – se no começo um grupo de três ou quatro pessoas, ligadas à Comissão de Música do Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, era responsável pela escolha dos premiados, ao longo dos anos um colegiado foi formado, permitindo não apenas que artistas votassem em si mesmos como dando voto a figuras do mundo social que nada ou pouco tinham a ver com a música clássica e a ópera. Depois de anos buscando patrocínios e se ligando a instituições públicas (depois da Secretaria de Estado da Cultura, a Fundação Padre Anchieta), seu desaparecimento, em 2007, não foi nem mesmo explicado.
Ao mesmo tempo, porém, o Prêmio Carlos Gomes corrigiu injustiças, premiou artistas que, possivelmente, seriam enterrados pela ação do tempo e do descaso; revelou jovens talentos; deflagrou e consolidou carreiras; acompanhou a descentralização da produção, fenômeno mais marcante dos últimos anos de atividade musical no país; discutiu a importância da memória na construção de uma tradição musical; e sinalizou o desejo de profissionais, críticos e especialistas, de encontrar no mercado musical uma coerência de talento e iniciativas.
Pesando tudo isso, é preciso reconhecer que o Prêmio Carlos Gomes nunca foi perfeito. Bom, também nunca o foi o cenário que ele veio contemplar. No entanto, o saldo de onze edições revela um universo de premiados que, uma pesquisa na programação dos últimos anos mostra, estiveram entre aqueles artistas que mais contribuíram com ideias e projetos para a música brasileira. Se estendermos o olhar para a lista de indicados, a percepção se confirma mais ainda e alivia o fato de que qualquer prêmio tem em sua essência a exclusão – para que alguém ganhe, alguém eventualmente deve perder. Levando em consideração os ventos e ventanias do mercado, da economia e da vida política, o saldo é positivo. Mais do que isso. Em seus acertos e erros, triunfos e dificuldades, de alguma maneira o Prêmio Carlos Gomes conseguiu ser um microcosmo da realidade da música brasileira na última década. Acreditar em sua continuidade é apostar mais uma vez no talento de um setor que, nos últimos anos, apesar de todas as adversidades, cresceu.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Coloque aqui seu comentário sobre esta matéria. Ao terminar , escreva também , seu nome e e-mail para que possamos entrar em contato. Abraços.