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terça-feira, 4 de agosto de 2009

Das Lied von der Erde - Canção da Terra


Caros amigos

É com muito orgulho que a Algol editora anuncia o lançamento do CD Das Lied von der Erde em Setembro, com data e local a serem confirmados.
Confira aqui, com exclusividade, o texto de Lauro Machado Coelho para o libreto que acompanha o CD.

Gustav Mahler começou a compor Das Lied von der Erde em Schluderbach, nos Alpes tiroleses, durante o verão de 1907 e, depois de preparar-se para assumir seu novo posto de regente na Metropolitan Opera House de Nova York, terminou-a em Toblach, nas Dolomitas, no verão de 1908. A peça foi orquestrada em Nova York durante 1909.
Circunstâncias pessoais muito fortes presidem à gestação da Canção da Terra. Mahler vira-se forçado a demitir-se da direção da Ópera da Corte de Viena, devido a intrigas em parte causadas por antissemitismo. Maria, sua filha mais velha, de apenas quatro anos, morrera de difteria. Durante um período passado em um spa, após a morte da filha, para tratar de uma depressão, a sua mulher, Alma, o traíra com o jovem arquiteto Walter Gropius, que viria a ser seu segundo marido. E o médico da família diagnosticara a precariedade das condições de seu próprio coração – uma moléstia de que ele morreria em 1911. “De um só golpe”, escreveu ele a seu amigo Bruno Walter – que estrearia A Canção da Terra em 20 de novembro de 1911, na Tonhalle de Munique –, “perdi tudo o que tinha ganhado em termos de quem pensava ser, e tive de reaprender os primeiros passos, como um recém-nascido.”
Um amigo lhe dera um volume de Die chinesische Flöte (A Flauta Chinesa), uma coleção de poemas livremente adaptados por Hans Bethge, publicado no outono de 1907. Bethge não falava chinês, mas baseou-se nas traduções de Hans Heilman (Chinesische Lyrik/Poesia Chinesa) que, por sua vez, partira de duas traduções francesas: Poésie de l’époque des T’ang, do marquês d’Hervey-Saint Denis, e Le Livre de Jade, de Judith Gautier, a filha do poeta Théophile Gautier. Mahler encontrou nesses poemas um eco da crescente consciência que tinha de sua mortalidade, ao lado da expressão do sentimento de que a beleza da Natureza, que o Homem desfruta por um período muito curto, se renova e volta a florescer depois de sua partida. Tanto que, na carta a Walter, ele afirma: “Acho que, provavelmente, esta é a composição mais pessoal que já criei até hoje.”
Muito supersticioso, Mahler tinha consciência da chamada “maldição das Nonas” – o fato de que nenhum compositor alemão, desde Beethoven, conseguira completar mais de nove sinfonias antes de morrer e, por isso, embora desse a Das Lied von der Erde o subtítulo de Uma Sinfonia para Tenor e Contralto (ou Barítono) e Grande Orquestra, não a incluiu entre as suas oito sinfonias precedentes. Mas foi inútil tentar trapacear com o destino pois, após terminar a Nona Sinfonia, morreu tendo podido escrever apenas o primeiro movimento da Décima.
Mahler já tinha incluído movimentos vocais ou corais nas Sinfonias n. 2, 3, 4 e 8, mas esta é o primeiro exemplo integrado da sinfonia-ciclo de canções, que serviria de modelo futuro a compositores como Alexander Zemlinsky (Sinfonia Lírica), Frederick Delius (A Missa da Vida), Havergal Brian (Sinfonia Gótica) ou Dimitri Shostakóvitch (Sinfonias n. 13 e 14).
Embora a sinfonia seja usualmente cantada por tenor e contralto, depois das gravações pioneiras de Dietrich Fischer-Dieskau – primeiro com Paul Kletzki e, depois, com Leonard Bernstein – tornou-se mais comum a substituição da voz feminina pela masculina. A presente gravação documenta a versão para conjunto de câmara: quintetos de cordas e de sopro, piano, celesta, harmônio e percussão. Iniciada por Arnold Schoenberg em 1920 e deixada incompleta, ela foi terminada em 1980 pelo musicólogo alemão Rainer Riehm.
Uma curiosidade: em 2005, Daniel Ng preparou uma versão em cantonês, dialeto escolhido por ser o que mais se aproxima do mandarim da região norte da China, do século VIII e hoje em desuso, no qual os textos originais foram escritos. Lan Shui regeu a estreia em 22 de julho de 2005, com a Sinfônica de Cingapura.
Das Trinklied von Jammer der Erde – A Canção de Taberna do Sofrimento da Terra – baseado em Canção Patética, de Li Tai-Po, o primeiro movimento mistura, como em tantas outras canções de taberna desse grande poeta da dinastia T’ang, a exaltação da bebedeira com uma profunda tristeza, que se traduz no refrão Dunkel is das Leben, ist der Tod (Sombria é a vida, é a morte). A parte do cantor é extremamente árdua, pois o tenor tem de cantar no extremo agudo de seu registro, contra uma orquestra muito poderosa, o que dá à sua voz uma qualidade metálica e penetrante. Segundo o filósofo Theodor Adorno, aqui o tenor deve criar a impressão de “uma voz desnaturada, no estilo do falsetto da ópera chinesa”.
Der Einsame im Herbst – mais suave, menos turbulento, O Solitário no Outono se inicia com um ostinato nas cordas, seguido por solos dos sopros. O poema, Noite de Outono, de Tchang-Tsi, também da dinastia T’ang, lamenta a morte das flores e a efemeridade da beleza. A orquestração é esparsa e camerística, com longas linhas contrapontísticas independentes.
Von der Jugend – fascinante em seu caráter de aquarela – as cores do pavilhão, da ponte de jade, das longas mangas flutuantes, a descrição das imagens invertidas que se refletem na água do lago –, o poema O Banquete no Pavilhão da Família Tao, de Li Tai-Po, recebeu de Hans Bethge o título Da Juventude. É o que tem a música mais obviamente pentatônica, num pastiche de melodia asiática. Todas as imagens – porcelana, jade, água, seda, a meia-lua –, e a ideia de que está tudo de cabeça para baixo, evocam a sensação de fragilidade da juventude.
Von der Schönheit – à Canção das Colhedoras de Lótus, de Li Tai-Po, Bethge deu o título Da Beleza. Este foi o poema mais alterado por Mahler. A música é suave e legato mas há, na seção central, uma passagem animada em que os instrumentos reproduzem o ruído dos cavalos, quando os jovens passam cavalgando entre os salgueiros. Há um longo poslúdio orquestral à passagem cantada.
Der Trunkene im Frühling – o scherzo da sinfonia é O Bêbado na Primavera, adaptado de outra das canções de taberna de Li Tai-Po: Sentimentos ao Despertar de uma Bebedeira em uma Manhã de Primavera. Iniciado, como o primeiro movimento, por um tema da trompa, ele possui grande variedade de andamentos, que se alteram a cada grupo de compassos. Na seção central do poema, há solos de violino e de flauta.
Der Abschied – quase tão longo quanto os quatro anteriores juntos, o último movimento, A Despedida, combina dois poemas: Esperando em Vão pelo Amigo, no Abrigo do Mestre na Montanha, de Mong Kao-Yen, e Adeus, de Wang-Wei, ambos sobre o tema da partida e da separação. Mahler acrescentou-lhes alguns versos que ele mesmo escreveu, em que o cantor repete as últimas palavras como um mantra, acompanhado pelas cordas, bandolim, harpa e celesta, até que a música se perca no silêncio (Benjamin Britten dizia que os últimos compassos eram “impressos no ar”) – um efeito que ele vai repetir na coda do final da N¬ona Sinfonia. A própria consciência se dissolve no infinito e o viajante deixa a terra e a vida para sempre.

Lauro Machado Coelho


A data e o local do lançamento serão confirmados em breve. Acompanhe as novidades em nosso site www.algol.com.br

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